Contribuir para uma cobertura jornalística mais responsável, ética e sensível, que não revitimize as mulheres e os seus familiares e que ajude a combater a cultura de violência de gênero na Paraíba. Foi com esse objetivo que a Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba elaborou o “Guia de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres: Diretrizes para uma Cobertura Responsável”.
O documento foi lançado, ontem, durante a abertura do Seminário Mídia, Ética e Gênero, promovido pelo Governo do Estado, no auditório da PBPrev. Idealizado pela jornalista Mabel Dias, integrante do Coletivo Intervozes, e pela professora universitária Glória Rabay, observadora credenciada do Observatório Paraibano de Jornalismo, o guia traz orientações para uma investigação séria e alerta sobre a necessidade de a categoria conhecer as consequências legais das distintas formas de violências contra a mulher, além do claro entendimento do que é o crime de feminicídio.
A ideia surgiu a partir do crescimento de programas policialescos que focam em uma cobertura jornalística sensacionalista e de culpabilização dessas mulheres — tanto as que foram mortas quanto as sobreviventes. “Conversamos com a secretária Lídia Moura da Secretaria de Mulher e Diversidade Humana] e ela acolheu a nossa proposta de elaborar o nosso material, que traz dicas sobre como fazer uma cobertura que não aumente ainda mais a violência e a insegurança das mulheres, criminalizando-as, quando elas é que são as vítimas”, disse Mabel. Para Glória, mais que um roteiro, o documento é uma ferramenta importante de reflexão do papel social da imprensa e da sua importância no combate à violência de gênero. “Espero que se abra um debate sobre como essa cobertura tem sido feita pela imprensa, que, por vezes, acaba por culpabilizar a mulher e ‘justificar’ o crime.
Então, que a preocupação não esteja em dar mais ênfase ao acontecimento policial, mas em informar onde pode haver prevenção e denúncia”, ressaltou. Lídia Moura definiu o guia como um marco significativo nos esforços coletivos para combater a violência de gênero e promover uma sociedade mais justa e igualitária na Paraíba. “A mídia auxilia muito quando divulga, estimula o debate e informa a sociedade. Mas nós também queremos proteger essas vítimas da violência causada pela abordagem incorreta. Queremos preservá-la e, ao mesmo tempo, divulgar incessantemente os serviços de proteção à mulher”, explicou.
O “Guia de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres: Diretrizes para uma Cobertura Responsável” foi elaborado pela Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba (Semdh), em parceria com a Rede Estadual de Atenção às Mulheres em Situação de Violência Doméstica, Familiar e Sexual (Reamcav), o Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social e o Observatório Paraibano de Jornalismo. A publicação se vale de casos icônicos dos noticiários paraibanos para alertar sobre a construção de estereótipos e o fenômeno da revitimização, além de indicar fontes de informação e redes de acolhimento para as vítimas de violência. O documento está disponível em material impresso e em versão on-line, no site do Governo do Estado (paraiba.pb.gov.br).
Novo letramento
A jornalista Naná Garcez, presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), em participação na solenidade de lançamento, apontou um novo letramento midiático como contribuição real e significativa da imprensa para o combate à violência de gênero. “Não é a primeira vez que a Semdh elabora um manual nesse sentido. Nós deixamos registrado, no papel e para a história, o que titulamos, o que gravamos, por isso é importante, sim, que no dia a dia da redação venhamos a discutir e a adotar uma nova linguagem, mais sensível à situação da mulher, que já está passando por um processo doloroso”, defendeu.
Naná destacou o trabalho de Glória Rabay, Mabel Dias e Lídia Moura, profissionais e pesquisadoras da comunicação, no combate ao sensacionalismo midiático e no enfrentamento à violência contra a mulher. “São pessoas que atuam há muitos anos nessa área, produzindo pesquisas, fazendo reportagens, fazendo manuais, denunciando e formando uma geração de pessoas mais possíveis”, complementou.
Seminário
Além do lançamento do manual, a programação do seminário incluiu a realização de três mesas de debates, das 9h às 17h. A promotora de Justiça Liana Espínola foi a ministrante do primeiro debate, que teve como tema “O Papel do Ministério Público na Responsabilização dos Meios de Comunicação sobre as Violações aos Direitos Humanos”, juntamente com o procurador da República José Godoy e a jornalista Tatyana Valéria.
Em seguida, Mabel Dias e Delma Andrade, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Governo Federal, debateram “O Ministério das Comunicações e a Fiscalização das Violações na Mídia”. Por fim, Glória Rabay abordou o tema “O Feminicídio na Cobertura Jornalística e a Ação dos Movimentos Sociais”. O evento teve ainda a participação da secretária Lídia Moura; de Inês Machado, representando o Sindicato dos Jornalistas da Paraíba; de Ivonildes Fonseca, vice-reitora da UEPB; de Liana Espínola, promotora do Ministério Público; e de José Godoy, procurador da República.
Por Lílian Viana
Publicado em Jornal A União, 7 de setembro de 2024, Pág. 5
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